O que é RPG?

O gênero RPG é amplamente reconhecido como um dos mais populares na indústria de jogos, com uma base de fãs extensa e global. Inicialmente originado em jogos de tabuleiro, onde os jogadores se reuniam em torno de uma mesa para compartilhar experiências, o RPG evoluiu e se adaptou aos videogames, adquirindo características únicas e distintas nessa nova forma de entretenimento.

RPG é a sigla para Role Playing Game, ou Jogo de Representação em português. É um jogo no qual os jogadores representam personagens e constroem uma história em conjunto. A construção da história em si é o jogo, e as regras servem para determinar parâmetros para as ações que os jogadores terão com seus personagens. O RPG é, portanto, uma atividade que está na intersecção entre jogos, teatro e literatura. Ele é, talvez, o jogo mais sofisticado existente, tendo na criatividade e na linguagem os únicos elementos essenciais para que ele seja jogado. As formas de se jogar RPG são tão variáveis e mutáveis quanto a criatividade dos participantes permitirem, não existindo métodos fechados. 

Este livro/site apresentará um conjunto de regras e ideias que servem para auxiliar na criação dessas narrativas em conjunto. Elas servem para guiar os participantes de formas que eles saibam onde estão as possibilidades e os limites das ações dos Personagens que eles estão interpretando. Elas foram exaustivamente testadas. 

Contudo, sinta-se livre para mudá-las ou ignorá-las. É importante que todos os que se aventuram no universo do RPG estejam conscientes de que há uma regra principal a todas, a chamada ‘regra de ouro’: o importante é se divertir! Uma ação impressionante, uma cena épica e uma boa história são a verdadeira finalidade de se contar uma boa história, que é justamente jogar RPG. Por isso, o Mestre pode improvisar para que as coisas fiquem mais interessantes. Mas quem é o Mestre?

O Mestre

Existem muitas variações possíveis de maneiras de se jogar, mas entende-se normalmente que o RPG é um jogo cooperativo. Isso significa que não há um vencedor, pois o objetivo é construir uma história e, provavelmente, alcançar um ou vários objetivos, de forma que os jogadores precisem agir em conjunto para isso. Assim como em muitas histórias (e na vida real), eles terão discordâncias e diferenças, e é até possível que eles fiquem uns contra os outros em algumas situações. Para que essa história seja conduzida, um dos participantes precisa ocupar uma outra função que não de simples jogador. Essa pessoa é chamada de narrador ou mestre. No Sinédoque RPG, adotamos a opção de chamá-lo de Mestre. Ele não terá um personagem próprio. Perceba que existir a nomenclatura ‘narrador’ auxilia na explicação de sua função. Ele faz, assim como num livro, o papel de quem centraliza e explica os acontecimentos da história. O Mestre é quem propõe a história a ser jogada. Ele conduz a história, estabelecendo eventos e atua decidindo/interpretando todos os outros personagens da história que está sendo narrada mas que não seja representado por nenhum dos outros jogadores. E como são os demais jogadores?

O Jogador

Jogador é qualquer um que joga RPG, mas vamos nos referir assim àqueles que jogam e não são o Mestre. Ou seja, são as pessoas que estão interpretando seus Personagens. Enquanto o jogo estiver acontecendo, elas são aqueles Personagens, que podem ser completamente diferentes do que esses indivíduos são no mundo real. Uma pessoa magra e intelectual pode jogar com um cavaleiro forte que lidera exércitos, uma pessoa honesta pode jogar como um assassino de aluguel e uma pessoa completamente cética pode jogar com um Elfo que executa magias. Tudo pode ser diferente e essa é uma das grandes diversões do RPG! Mas não se esqueça, é apenas um jogo! O respeito e a cordialidade entre os indivíduos que compõem a mesa devem ser mantidos, contatos físicos devem ser evitados. Deve ficar claro que tudo que seja dito vale única e exclusivamente durante a sessão de jogo. Quando o jogo acaba, todos voltam a ser eles mesmos, continuando suas vidas e amizades independente do que acontece na mesa. Mas o que é uma mesa? (e/ou sessão, campanha?…)

Mesa de RPG

Costumamos chamar de ‘mesa’ um grupo que se reúne e faz parte de uma história em específico, composto por jogadores e mestre. Cada vez que jogam é uma sessão, ou sessão de jogo. A Campanha é a sucessão de uma longa história com várias sessões, como um romance literário ou uma série televisiva. Por vezes, quando uma Mesa se reúne para jogar uma Sessão apenas (uma história que o Mestre vai narrar com começo e fim naquela Sessão), costuma-se chamá-la de oneshot (um tiro). A campanha é o oposto disso, quando os jogadores se reúnem sempre e jogam continuamente, sem que esteja perfeitamente claro quando aquela história ou conjunto de histórias irá se encerrar. É por isso que alguns RPGistas jogam, há muitos anos, uma ‘história sem fim’…

Como jogar

A partir de agora, quando usarmos iniciais maiusculas em algumas categorias, é porque estamos nos referindo a essas categorias, tal como pensado e descrito neste texto, como Mestre e Jogador. Assim, ao dizermos Jogador (com maiuscula), está claro que estaremos nos referindo a um jogador de RPG (e, mais especificamente, do Sinédoque RPG). 

Como condutor da história e narra as situações, o Mestre também é responsável por zelar pelo uso das regras. Ele tem a palavra final sobre como as ações de uma história vão se desenrolar. Os conjuntos de regras são conhecidos como sistemas de regras, ou apenas ‘sistemas’, como GURPS, D&D, Storyteller dentre inúmeros outros. Este livro se propõe a apresentar o sistema Sinédoque, que explicará como construir personagens, definir suas características, possibilidade de ações e parâmetros para se jogar RPG. 

Sinédoque é um sistema que começou a ser desenvolvido nos anos 2000 e possui um conjunto de regras que funcionam para se jogar de uma determinada forma. Voltemos a lembrar sobre a regra de ouro: o mestre pode alterar o que julgar necessário para que ele e os jogadores contem uma boa história. RPG não é como xadrez ou um boardgame, com regras completamente definidas para todas as situações de forma objetiva. As regras são sugestões e métodos. Obviamente, elas existem para que as situações não aconteçam de forma arbitrária, e que os envolvidos possam saber ‘até onde’ e ‘como’ podem realizar ações com seus Personagens. É interessante comentar que uma das coisas mais divertidas de se jogar RPG é lidar com a interação entre as ideias de Mestres e Jogadores e a randomicidade. Por isso, as regras – e principalmente o resultado dos dados – podem e devem ser interpretados de acordo com cada situação. E não há como definir isso. O Mestre definirá qual a narrativa correspondente, por exemplo, quando um jogador tirar um resultado impressionante e/ou completamente inusitado e como isso afetará a história que está sendo contada.

Represente!

Alguns jogadores gostam também de vestimentas, adereços, representar linguagem corporal e fazer diferentes vozes. O aspecto cênico – a representação, ou RolePlay – deve ser estimulada por todos e para todos. Novamente, ela não é imprescindível, mas enriquece o RPG e diverte os presentes. É a partir desses momentos que é possível sentir a dimensão psicológica das situações e dos Personagens. Por exemplo; o Mestre pode pedir para que o jogador fale o que o seu Personagem quer ao invés de apenas fazer uma rolagem da Perícia Lábia. 

É interessante que haja o estímulo aos jogadores para que descrevam as ações de seus Personagens sem necessariamente estarem olhando para suas fichas e pensando em termos de regras, mas sim, em termos de narração da situação. Muitos desafios presentes nas sessões podem ser resolvidos não com rolagem de dados, mas resolvidos a partir da observação e julgamento do jogador. Uma rolagem de dados pode fazer com que o Mestre conte onde está a porta secreta que está sendo procurada. Mas não é tão interessante quanto ele descrever toda a sala e fazer com que os jogadores expliquem onde e como estão procurando. 

Experimentar o universo do jogo sem saber exatamente como as coisas estão acontecendo, assim como às vezes as pessoas agem no mundo real. Nesse sentido, é interessante que o Mestre não narre previamente à rolagem dos dados os possíveis resultados de uma ação (caso eles não sejam óbvios). O que acontecerá se Kleudes falhar no teste de Ocultismo, decifrando erroneamente as runas mágicas que abrem o portal?

Realismo e fantasia

A proposta do Sistema Sinédoque é lidar com Personagens humanos, e não super-humanos, o que não quer dizer que eles não possam ser ‘fantásticos’. O mesmo Personagem que pode soltar raios com as mãos também pode morrer com um golpe normal de espada. Um Personagem capaz de um feito lendário é o mesmo que se apaixona e pode ser enganado por uma traição. A ideia é que grandes histórias sejam contadas e não apenas que os jogadores satisfaçam seus egos com Personagens superpoderosos. Os Personagens existem da forma que lhes é possível, por meio de sua sagacidade e da interpretação. Uma pessoa que não sabe conversar e quer apenas matar todos em busca de tesouro e poder provavelmente não seria uma pessoa agradável ou interessante no mundo real. Não seja esse jogador também. RPG inclui sociabilidade. 

A maioria dos combates ocorre em situações adversas, onde o terreno não é ideal, objetos se encontram no caminho das armas. Poucos seres querem lutar até a morte. Eles podem correr, fugir, implorar por clemência. Algo semelhante acontece em situações sociais ou discursivas que podem acontecer: líderes nem sempre querem arriscar sua vida. E isso pode acabar acontecendo com os Personagens dos jogadores também, inclusive em situações menos emocionantes que uma batalha épica. Tragédias acontecem durante a calada da noite ou em golpes de azar, e quando menos se espera alguém importante pode morrer numa situação inusitada alterando o curso de grandes narrativas. Quantas vezes isso acontece em Pulp Fiction? Explore a incerteza.

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